sábado, 22 de novembro de 2014

IDADE & DILEMA

Depois dos 40 anos, é impossível evitar os “olhares moralistas”.

Quando o tema é amizade, com mais de 40, a situação torna-se bizarra.
Primeiro, aparece “a recusa de crescer”, o que leva a viver na mesma turma eternamente. O caso clássico é o do grupo Rolling Stones.
Segundo, vem o foco na família constituída a partir do casamento aos 20 anos: filhos, sogros, tios, cunhados e assim por diante. O auge (aqui) é o natal. O que acontece todo ano nesta data representa uma síntese do que a vida daquela pessoa tornou-se. O sentimento de tristeza no fim de ano não ocorre por acaso. Terceiro, aparece a escolha de ser sozinho. A maioria não compreende tal opção assim como acredita nos discursos dos governantes e nos telejornais brasileiros.

Além dos familiares e amigos, o indivíduo precisa conviver ainda com as pessoas no trabalho. Não importa se ele é eficiente, possui bastante experiência e uma ótima formação intelectual. Neste ambiente, os “olhares moralistas” são impiedosos: o consideram velho demais e o suportam ali quase como um favor.

Existe algo pior que ser excluído aos 40 anos numa “sociedade do trabalho”. Não bastam coisas como os “olhares moralistas”, as demissões, as falências, as traições e os divórcios (para citar alguns exemplos). É necessário ir além em termos de “civilização”.

O indivíduo não é “sacrificado”, jogado ao rio (com os membros das antigas tribos faziam com as crianças que não nasciam em perfeitas condições físicas) ou algo parecido. Ele é “mantido vivo” como uma espécie de punição. Ele é mostrado como um exemplo do que deveria ser evitado. É irônico porque todos necessariamente passarão dos 40 anos e viverão tais experiências.

As coisas podem ficar piores. O indivíduo pode querer disfarçar a idade e fingir que não possui 40 anos. Ele mistura-se aos jovens e acredita que passa despercebido. Não passa. Ninguém o acusa diretamente (isso é raro), mas falam mal longe dele e diante do indivíduo não conseguem disfarçar os seus “olhares”.

Além de toda essa humilhação, o indivíduo insiste em trabalhar, se humilha, implora para continuar sendo explorado pela empresa que sempre o desprezou. Não importa em receber salários menores do que os outros. Não importa com os risos e as piadas a seu respeito. Ele deseja ficar ali, naquele lugar em que não é desejado (que não é necessário mais).

O indivíduo evita reclamar porque as pessoas “normais” não gostam de negatividade. Crítica seria algo do passado.

Não dorme adequadamente. Acorda cedo. Vai ao trabalho. É desprezado nas conversas (como se não pertencesse aquele grupo).

No fim do expediente, é evitado pelos colegas. Se insistir em participar do “happy hour”, jamais poderá sair da mesa com o risco de tornar-se automaticamente “o assunto do momento” com críticas de todos os tipos e sem um pessoa ali para defende-lo.

Pode parece triste passar dos 40 anos, mas todos chegarão lá e não serão poupados porque fizeram cirurgias plásticas ou possuem bastante dinheiro.

É o início (do que a maioria) acredita ser a decadência cujo ponto final seria a morte.

Como sair disto?

Basta ser sincero.
Assumir que não deseja trabalhar numa empresa medíocre e nem que deseja ser tratado como um funcionário de segunda categoria.
Recusar os convites de familiares que desejam a sua presença só para confirmar a falsa tese da união familiar.
Não puxar conversar com os desconhecidos.
Quer saber algo novo e interessante, leia um bom livro, ali no bar mesmo.
E a solidão?! Todos sabem que todos nasceram e morrerão sozinhos. Sabem ainda que a pior forma de solidão é aquela quando se está invisível numa ambiente cheio de familiares e amigos.
Não dá para ser sozinho o tempo inteiro. O indivíduo é também um ser social. Para isso, existem alternativas e técnicas para lidar com os outros (quando achar que for necessário).

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