quinta-feira, 20 de novembro de 2014

MEDO & ANSIEDADE

Eu não acredito, apesar do capitalismo “se alimentar de carne humana”, que o último modelo econômico chamado de “neoliberal” será duradouro na medida em que se antes as pessoas eram exploradas sobretudo com longas jornadas de trabalho manual nas fábricas – ver séculos XIX e XX -, atualmente os indivíduos são simplesmente expulsos do processo produtivo, o que gera uma grande mão-de-obra ociosa.
O grande problema nem seria a falta de um salário mensal. A questão central seria esse número cada vez maior de gente sem ter o que fazer numa sociedade que associava o trabalho a uma necessidade humana, tratava-o como algo bom, como uma forma de identificar o cidadão honesto e isso era passado ideologicamente por todos os “aparelhos” - incluindo religião, família e escola.
Multinacionais demitem até mais de 5.000 trabalhadores de uma única vez. Isso é mais complicado pois significa 5.000 famílias que dependeriam daqueles indivíduos. O que acontece com toda essa gente?
“Atualmente, quase metade das profissões (47%) pode ser substituída por máquinas no futuro, segundo um levantamento realizado pelos americanos Carl Benedikt Frey e Michael A. Osborne.” *
Sim, uma característica do neoliberalismo seria o “desemprego estrutural” – a pessoa perde o emprego e a profissão, mas qual seria o resultado prático disto?
De imediato, ocorrem as manifestações coletivas públicas ou mesmo dentro em lugares privados como shopping centers. Tudo é tratado equivocadamente como caso de polícia. A repressão é a estratégia dos governos tanto no Brasil como no Egito ou na Ucrânia ou na Tailândia. São países diferentes mas que possuem algo em comum: o modo de produção capitalista.
Além de não ter sido educado para lidar com o “tempo livre”, os indivíduos, hoje em dia, lidam com outro grave problema: não acreditam em projetos quanto ao futuro.
Os dirigentes da mídia não convencem mais na sua tentativa de associar um manifestante de rua ao marginal, ao criminoso.
Os políticos estão mais desacreditados do que nunca. Não é por acaso, afinal, que os governos utilizam táticas do século XIX para lidar com os indivíduos no século XXI. Eles, em ditaduras (como a Síria) ou em países democráticos, tratam as pessoas como números, estatísticas, como se não tivessem rostos, crenças, desejos e frustrações; ou tentam ainda falar que seria um problema individual – o mau caráter de um indivíduo especificamente – e não admitem que seria uma crise coletiva, social.
Admitir um problema é um passo para compreender o processo e para, depois, buscar uma solução. Isso não tem sido feito na crise atual, o que agrava a sensação de que o pior está por vir. Esse tipo de sentimento ocorre até com os alienados que não entendem o que acontece no mundo mas “desconfiam” que existe “algo errado no ar”. Medo e ansiedade “saem” dos consultórios dos psicólogos e psiquiatras e “invadem” as ruas. Pessimismo? Basta olha ao redor ou, talvez, no espelho.
(*) Derek Thompson. Here Are The 47% Of Jobs At High Risk Of Being Destroyed By Robots. Business Insider. Apud, Mercado Fechado. Yahoo, 28-01-2014. http://br.financas.yahoo.com/…/profiss%C3%B5es-que-n%C3%A3…/#

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