domingo, 30 de novembro de 2014

Fora do Lugar

Frequento as noites de várias cidades desde a época em que não era obrigatório ter 18 anos para entrar em casas noturnas (na prática, porteiros, seguranças e fiscais não davam a mínima importância para esse tipo de lei).
Vivi coisas fantásticas em cidades como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Uberlândia e até Paris. Bares, boites, shows e quase todo tipo de loucura que faz parte do “lado selvagem” das noitadas.
Com o tempo, claro, as coisas mudam.
As pessoas mudam.
Casamentos. Filhos. Famílias.
Algumas dessas pessoas ainda insistem em aparecer nas “velhas casas noturnas”, mas com marido e filhos, tudo parece ficar fora do lugar. Tenho essa impressão.
Com o tempo, eu também fiquei fora do lugar. Acho que até demorou. No entanto, consegui. Fico “invisível”, num canto, bebendo e fumando charuto sem chamar (muita) a atenção.
Não participo mais daquelas conversas de bar. Evito os olhares. Nem de longe penso em me envolver com alguém da noite.
Eu saio para não ficar em casa. Óbvio, não? De fato, passo a maior parte do tempo na minha biblioteca, com meus livros, minhas bebidas, meus charutos e meus incensos. No entanto, em algum momento, aparece aquela vontade de ver o mundo mais de perto (e não só da sacada). Assim, resolvo e saio.
Normalmente me arrependo e sinto saudades da minha biblioteca, mas como decidi ficar em algum bar, então fico.
Eu sou de outra época e, portanto, fico impressionado com a maneira agressiva que as pessoas lidam umas com as outras.
Não existe respeito. Não existe autoridade. Não existe hierarquia. Tudo ficou bastante confuso (em todos os sentidos).
Evito participar.
Só observo.
Se possível, na tabacaria, atrás de um vidro (que me separa da praça, da rua, do posto de gasolina; e de tudo que fica envolvido nestes lugares).
Quando canso de ver, chamo um táxi e vou embora, afinal, os meus livros me esperam. Sempre.

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