segunda-feira, 18 de julho de 2011

BDSM: Bondage / Discipline / Sado / Mascochisme

Após anos de casamento, divorciado, imaginava que eu estava velho e "fora do mercado". Não demorou muito e percebi que não era bem assim. Mais jovem, ninguém fica. Agora o mesmo não pode ser dito sobre o mercado de bares, festas e casas noturnas. Percebi que era aceito, que não precisava ter 20 anos para se divertir, por exemplo, em lugares que só tocavam rock pesado.
Tive experiências que não conhecia antes do casamento. Sou historiador e já li, claro, livros sobre a história da sexualidade. Portanto, não me impressiono facilmente. 
Na verdade o que vi, o que muitos chamam de uma "nova liberdade", era a repetição de relações e crenças de outras sociedades. Orgias aconteciam, por exemplo, na época do Império Romano. Festas a fantasia, uma oportunidade para "ficar com desconhecidos", eram comuns entre os nobres dos séculos XVII e XVIII. O elogio da relação amorosa entre dois homens era aceita na Grécia Antiga.
Houve, portanto, uma recriação de algo, utilizando novos nomes e novas formas de fazer amor. Uma dessas experiências seria o "dark room" - sala escura onde as pessoas fazem sexo clandestinamente -, tão comum em boites gays. "Glory Holes" - "uma parede, geralmente de madeira, cheia de furos através dos quais os homens passam o pênis em ereção, que pode ser manipulado às cegas pelas moças de passagem" (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p.102) - aparentemente não são comuns no Brasil. Por outro lado, a prática do "swing" - troca de casais - foi aceita no país. 
Na Europa, surgiu o termo BDSM: Bondage / Discipline / Sado / Mascochisme ou Bondage / Domination / Sexual / Mistery. "Bondage" estaria relacionado a experiência de "amarrar e ser amarrado." (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99) 
Enfim, experiências antes consideradas "exóticas" são cada vez mais comuns atualmente. Se antes, essas "liberdades" eram restritas aos indivíduos da elite, hoje é diferente, como lembra Michel Maffesoli:
"O que estamos testemunhando agora é a democratização da sacanagem, e a internet contribuiu para divulgar e estabelecer diálogos mais amplos e diretos." (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99) 
Essa hipótese é correta. Percebo isso nos lugares que freqüento. As chamadas redes sociais, o excesso de bebidas alcoólicas e a criação de novas drogas têm contribuído para a construção de novos parâmetros nas formas de relacionamentos.
Entretanto, algumas perguntas permanecem: por quê? O modelo de casamento monogâmico entre um homem e uma mulher estaria condenado a extinção? O que levaria uma pessoa aos rituais de sadismo e masoquismo numa relação sexual?
A partir de um ponto de vista freudiano, Estela Welldon acredita, por exemplo, que "as sementes do futuro sadomasoquismo (...) são plantadas na primeira infância." Para ela, seria "necessário destinar recursos melhores para auxiliar mães e bebês a escapar de parceiros abusivos, de modo que possam entender de algum modo a sua vida interior." (Sadomasoquismo, RJ: Relume Dumará, 2005, p. 73-74)  
Nos jornais brasileiros, são apresentados vários casos de abusos contra crianças e adolescentes realizados dentro do núcleo familiar. Crianças são amarradas, violentadas e torturadas por pais, tios, parentes e amigos. Nem sempre esses atos são estimulados pelo uso de drogas e álcool. Isso sem levar em consideração a quantidade de bebês abandonados pelas mães em lixos ou em ruas de pouco movimento. O que esperar do futuro dessas crianças?
É comum se criticar os jovens pelo comportamento sexual tido como liberal ou "anormal". Mas as pessoas "esquecem" de questionar a origem desse comportamento e parcela de culpa dos pais na formação destes indivíduos. É mais fácil jogar pedra no outro do que olhar no espelho.

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