sexta-feira, 15 de julho de 2011

O BEIJO DA MORTE

A depressão sempre foi considerada a principal causa de suicídios no mundo. A sua intensa dor já foi apelidada de "o beijo da morte".

Fiz psicoterapia entre os anos de 1995 e 2009. Aparentemente, a minha primeira crise de depressão foi aos sete anos de idade. Tive três médicos (um deles suicidou). Tomei vários tipos de medicamentos. Uma vez, aos 16 anos, fiquei internado uma semana em uma clínica. A minha mãe tinha depressão.

Nasci com essa predisposição genética e, ao longo da vida, tive que aprender a conviver com ela. O meu cotidiano sempre foi como o dos outros. Quando mencionava que tinha depressão, poucos acreditavam de imediato. Eu sofria muito na hora da crise. Fora daquele momento, era possível realizar as minhas atividades normalmente.

Apesar do sofrimento, sempre procurei compreender a causa da dor. Para tanto, lia, conversava com a minha psicoterapeuta e com médicos. Esse comportamento era uma opção minha e não uma busca por cura.

Parece que nem todos estão dispostos a lidar com o passado. Em relação a um paciente que tinha terríveis experiências sadomasoquistas, Estela Welldon (Sadomasoquismo, RJ: Relume Dumará, 2005, p. 43) afirmou:

"Era mais fácil enfrentar a repetição daquelas experiências, sobre as quais tinha certo controle, do que enfrentar todo um processo de psicoterapia, durante o qual mergulharia numa situação desconhecida, de intenso sofrimento emocional."

Aparentemente, o paciente de Estela Welldon preferia o horror da dor física no lugar do "sofrimento emocional." De fato, não era uma escolha. Tratava-se de uma fuga do passado. Ainda sobre o mesmo paciente, Welldon (p. 43) afirmara:

"Não conseguia analisar a relação entre a dor insuportável do passado e sua condição presente. Em vez disso inventara uma crença em sua liberdade, já que era participante 'ativo' da dor infligida." 

Diante de casos como esse, é difícil aceitar, como desejaria Carlo Strenger, que as práticas sadomasoquistas não são "categorias patológicas que precisam ser diagnosticadas e curadas." (p. 41)

Pessoalmente, sempre me sinto desconfortável - para dizer o mínimo - quando me deparo, num filme, por exemplo, com cenas sadomasoquistas. Não é algo que me atrai. Isso não quer dizer, porém, que eu esteja entre aqueles que acreditam que trata-se de um processo que tenha cura - aliás, lembra um pouco os discursos de várias lideranças religiosas que acham que podem "curar" o homossexualismo de alguns indivíduos.

Não sou favorável a alienação ou a fuga do passado. Contudo, acredito, como Freud afirmava, que existe, em cada indivíduo, um conflito entre "eros" - o amor pela vida - e o instinto de morte. A questão é saber lidar com todas essas contradições dentro de si mesmo e nas relações, nem sempre harmoniosas, que construímos com os outros. 

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