sábado, 23 de julho de 2011

DIVERSÃO

É comum se afirmar que as pessoas não têm tempo para visitar os parentes, para conversar com os amigos e até para dar atenção para os filhos. O que acontece? Tempo é um conceito abstrato. O que ocorre é que a fuga de si leva a fuga do outro. 

O indivíduo não quer tempo para pensar na sua vida, então ele busca coisas (em excesso) para fazer. Ele inventa a sua própria "falta de tempo". No capitalismo, foi construído o conceito de que você é valorizado pelo seu "trabalho". O relógio tornou-se um instrumento fundamental. Não é necessário um "big brother" para controlar o tempo da pessoa... elas mesma, olhando para o seu pulso, sabe o que tem que fazer, se está atrasada ou adiantada. 

Quando chegam as férias, o ócio vira problema. Muitos estressam mais nas férias do que no período de trabalho. Afinal, o que fazer? Nada? E o sentimento de culpa? E o medo de que não sintam a sua falta na empresa? 

Será que as pessoas perceberiam o óbvio: você é uma mercadoria (Marx) e, como tal, pode ser descartada e não fará falta, seja na empresa, na família, na amizade ou em outras relações. Claro, esse é o ponto de vista de nossa sociedade capitalista. Não precisaria ser assim. É uma escolha individual num modo de produção em que tudo é definido coletivamente. Complicado? Você fracassa em algo e imagina que a culpa é só sua. Por exemplo, não passa no vestibular ou em um concurso, sente-se mal por isso. Esquece, contudo, quais foram as condições dadas para que você pudesse concorrer com todos os outros candidatos. Aquela história de que todos são iguais e concorrem, portanto, em igualdade de condições é uma lenda burguesa, muito antiga por sinal. Mão invisível do mercado? Adam Smith? Por favor... 

Entender o seu papel na comunidade e na sua relação com o outro pressupõe compreender você primeiro. Não dá para criticar algo sem que ocorra, antes, auto-crítica. Você tem que ser capaz de olhar para si mesmo. 

Se você fantasia sobre o seu lugar nas relações, se você imagina que tem uma importância para os outros e isso só existe na sua cabeça, bom, quando "as férias" acabarem você realmente poderá ter surpresas desagradáveis. Insistir na fantasia, ainda é uma escolha sua. Insistir demais pode ser o caminho da loucura, da perda da razão, quando você cria uma mundo só para você e não consegue perceber mais a realidade. 

Você tem medo do que? Da loucura? Da solidão? Da falta de dinheiro? Da falência? Do desemprego? De não ser amado (a)? 

O medo pode te levar à fuga - como alcoolismo, excesso de trabalho, fanatismo religioso, vício em drogas e consumismo - antes de você enfrentar a realidade. Viver na fantasia é fácil. O difícil é conseguir sair dela. O chato é a insônia. O que incomoda é o pesadelo, o seu inconsciente te alertando de coisas que você se esforça bastante para esquecer. Se durante o dia, quando as lembranças desagradáveis tentam aparecer, você bebe ou usa droga, no sono, isso não seria possível. O seu inconsciente é implacável. 

Lidar com essas três dimensões - sonho, fantasia e realidade - certamente não é algo simples. No entanto, também não é a morte ou o fim do mundo. Isso não acontece só com você. O capitalismo existe a partir da exploração de uma minoria sobre uma maioria. O mundo não é justo. Toda relação amorosa está fadada ao fracasso (para dizer o mínino). Então, a resposta seria desistir? Claro que não. A resposta estaria no "sussurro do vento", como naquelas músicas do Bob Dylan e do Led Zeppelin? Bem poético, mas sem efeito prático (eu sei que essa não era a intenção dos compositores)... A resposta é não fugir e isso quer dizer simplesmente viver, lidar com os prazeres e os problemas proporcionados pelas relações que inventamos. Sofrer, algumas vezes... Divertir mais, se possível...  

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