sábado, 23 de julho de 2011

O OUTRO

Sêneca refere-se a morte de Cano Júlio, condenado por Caio Calígula, dizendo:

"Tristes estavam os amigos que iam perder tal varão. (...) E ele prometeu que, se descobrisse algo, havia de voltar aos amigos e indicar-lhes qual fosse a condição das almas." (p. 63)

A primeira frase demonstra o que sentimos na perda de alguém. Aqui a questão não é o interesse do outro - se quer ou não, se importa ou não com a morte -, mas sim o que queremos, a utilidade que ele representaria vivo para nós.

A segunda frase trata de uma promessa que não poderia ser cumprida: voltar da morte ao mundo material. Existem várias hipóteses neste sentido. Algumas são religiosas e outras não... Lembro-me de uma fala do personagem George, afirmando que Seinfeld poderia faltar ao velório da avó e ir jogar beisebol, afinal, ela não se importaria, pois diante das infinitas possibilidades que lhe seriam oferecidas no novo ambiente, ela mesma não compareceria ao próprio velório.

Isso pode ser associado à maturidade. Muitos dizem: "ah, se eu soubesse disto antes, quando era jovem." A solução seria os mais velhos transmitir os conhecimentos aos mais jovens. Contudo, isso não funciona. 

Primeiro, porque os jovens não querem saber, ou melhor, acham que sabem mais que os velhos 

Segundo, quando atingem a maturidade e percebem que tiveram que aprender tudo sozinhos, com experiências terríveis e inevitáveis sofrimentos e fracassos ao longo do caminho, os velhos, por egoísmo ou por tédio, simplesmente não insistem em dar conselhos aos mais jovens. No máximo, ficam com aquele "sorriso Mona Lisa", irônico, como que dizendo: "já vi esse filme antes e esse menino se acha esperto..."

Jovens ou velhos sabem que vivem por um período de tempo, entre o nascimento e a morte. O que podem fazer está neste intervalo. É simples: não existe "replay". Ou você faz ou não. É isso. 

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