sábado, 23 de julho de 2011

DESEJOS 2

Antonio Gramsci afirmava que não seria possível ser cético. Thomas Bénatouil reconhece o óbvio: "de fato, o ceticismo não é uma escola ou uma tradição intelectual homogênea." (Magazine Littéraire, Janvier 2001, p. 18). Óbvio na medida em que é difícil encontrar alguma doutrina sem divergências, polêmicas e facções. Contudo, não há como negar o auxílio do princípio do ceticismo no modo de pensar do ser humano. Ou seja, questionar permite ao homem ir além dos instintos. Isso é o que diferencia dos outros animais e o coloca diante de duas velhas problemáticas: a própria natureza e e a construção da civilização.

O homem, em sociedade, tem que controlar os seus desejos. Isso gera um mal estar no ser humano, pois ele tem que reprimir o seu "instinto natural" para ser percebido como "homem civilizado". Em outras palavras, o que define o ser humano é o conflito "interno" - id, ego e super ego (Freud) - e a problemática "externa" - as suas relações com os outros indivíduos. Ninguém pode ajudá-lo. Como lembrava Sartre: "même se Dieu existait, ça ne changerait rien. (...) il faul que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même." (L'existencialisme est un humanisme, Éditions Gallimard, 1996, p. 77)

Neste ponto de vista, o homem tem que lidar com ele mesmo, com seus problemas e suas dúvidas e não existe resposta fora dele. As respostas, sim no plural, seriam construídas e reconstruídas durante a sua existência. Não é agradável perceber a complexidade do homem na civilização, sobretudo quando ele entende que nada é estável e seguro. Isso pode levá-lo ao ceticismo ou ao niilismo. Ou não. Ele pode "assumir" a vida no que ela é e não no que ela poderia (deveria) ser, isso quer dizer que, ao mesmo tempo, ele abandonaria as ilusões e as fugas cotidianas para lidar com os problemas reais, criados por ele ou não.

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