sábado, 23 de julho de 2011

DESEJO

Os indivíduos inventam os conceitos de acordo com que sociedade em que vivem. Assim, tais conceitos podem mudar ou desaparecer em favor de novas concepções. Sexo é um instinto básico de todos animais, incluindo, obviamente, os homens. 

O problema nesta área não seria o sexo em si, associado à natureza, mas sim como ele é usado em cada época como forma de civilização ou de exercer o poder. Muitos separam o sexo do amor. Outros criam valores diferentes para os dois conceitos. Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que "quando há amor, o sexo é de uma irrelevância absoluta."

Michel Foucault, referindo-se à constituição da sociedade ocidental, destacou que "quando os homens, após terem aprendido tantas habilidades úteis, começaram a não negligenciar mais 'nada' em sua pesquisa, a filosofia surgiu, e com ela a pederastia." (O Cuidado de Si, p. 214) Na Grécia Antiga, era discutido, do ponto de vista dos homens, tanto o amor pelas mulheres como o amor pelos rapazes. 

O padrão que conhecemos como "normal", a relação homem-mulher, as idéias de casamento e virgindade, predominaram a partir do século IV, com o reforço dos discursos dos religiosos, dos filósofos e dos médicos.

O interessante, contudo, é perceber que mesmo na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Foucault, no mesmo livro (p. 197), dizia "que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)." O essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor. 

Na sociedade moderna, com o elogio da virgindade, para os homens, na prática, o amor seria aquele sentimento que ocorreria no casamento, com a esposa. Com as outras mulheres, seria apenas sexo. Muitos ainda pensam assim.

Enfim, a relação amor e sexo é problemática, ainda mais quando associada aos temas como fidelidade e desejo. Tudo isso torna esse tipo de relação quase impossível, no sentido de se viver efetivamente "o amor verdadeiro" e não uma relação de poder ou uma negociação empresarial, que as duas partes mentem e omitem quanto aos seus verdadeiros sentimentos, interessando somente o resultado prático e material da união conjugal.

Parece que sem o sexo, fica mais fácil entender o amor. Basta pensar nas relações estabelecidas nas amizades, nas famílias e nas religiões ou em outros formas de convívio humano. Com isso, não quero dizer que fazer sexo seja errado. O sexo é natural e necessário, isso é óbvio. No entanto, quando idealizamos sobre algo real, criamos, de fato, um problema sem solução, na medida em que são duas dimensões distintas: fantasia e realidade. O resultado disto, todos conhecemos, é a dor... o sofrimento e a frustração. Sentimentos esses que caracterizam  bem os indivíduos civilizados. 

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