sábado, 23 de julho de 2011

PRECONCEITO

Freud sabia da existência de Nietzsche. Uma vez, ele comentou que achava que Nietzsche tinha tendências homossexuais. Freud, entre outras coisas, associava o homossexualismo ao narcisismo e ao masoquismo. No filme "Les Invansions Barbares", questionando os grandes pensadores, Freud torna-se objeto de dúvida: uma personagem afirma que ele era gay (sem assumir, claro). 

A vida particular de cada um não deveria interessar à ninguém. Nos casos citados, o que importa é que os dois pensadores, junto com Marx, definiram as possibilidades do homem a partir do século XX.

De fato, as pessoais são sexuais. Separá-las em categorias, é uma forma ideológica de reforçar os preconceitos. 

A homofobia do personagem Charlie Harper, de "Two and Half Men", é mostrada em vários episódios. Num deles, conversando com a sua psicoterapeuta, ele pergunta: "existe a possibilidade de ser gay sem saber?" Alan, seu irmão, com a mesma dúvida, ouve de um amigo gay: "você sente atração por homem?" Essa é a questão chave. Ela define o seu desejo sexual. 

Entretanto, em nossa sociedade, a homofobia acaba sendo uma característica da maioria dos heterossexuais. A crítica ao outro aparece como uma espécie de "segurança" quanto a sua própria sexualidade. Existe um medo de ser considerado "gay", o que é normal, visto que, no mundo atual, as pessoas são efetivamente preconceituosas quando o assunto é sexualidade. 

De fato, esse jogo hipócrita de aparências é uma bobagem, trata-se apenas de um pretexto para criticar o outro - assim como a cor da pele ou a escolha religiosa - e fugir de si mesmo, evitando qualquer forma de auto-crítica. 

Em suma, exceto no caso dos narcisistas, o desejo sexual está associado ao outro. É algo definido a partir de "dentro" e independente da pessoa ter nascido homem ou mulher. Não é algo absoluto. Pode mudar. 

O fato de estar num corpo de homem ou de mulher, pode mostrá-lo como heterossexual ou homossexual. Você não escolheu o corpo que iria nascer. Entretanto, você sabe por que tipo de pessoa sente atração. 

O complicador, neste processo, é a sociedade em que você vive. Dependendo dela, do momento histórico, a realização do seu desejo pode ser percebida como natural ou "anormal". No último caso, deve ser criticada e até condenada à morte, como ainda hoje ocorre em alguns países. 

O que era simplesmente algo natural, a atração sexual, o desejo do ser humano, tornou-se um instrumento para controlar os indivíduos. Na medida em que o sexo deixou de ser um desejo natural e passou a ser uma estratégia de poder, a pessoa deixou de olhar para si, ficou com medo do seu desejo e de sua sexualidade, preferindo representar um papel em que fosse aceito pelos outros como "normal". Deixou de ser sujeito e tornou-se um objeto, que nem pode ser considerado sexual... Em outras palavras, deixou de existir e virou um "fantoche" do outro, que, nesse teatro de dominação, cumpre um papel também, esquecendo, inclusive, por que era tão importante manipular o próximo e desprezar valores como amor e solidariedade.

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