terça-feira, 7 de junho de 2011

COVARDIA

Uma característica marcante do ser humano é a covardia. Para salvar a própria pele, o indivíduo é capaz de tudo. A insensibilidade quanto à dor do outro é apenas uma conseqüência disto. Lembra o final do filme "Ligações Perigosas", quando, para justificar aquilo que não tem justificativa, seria usada a frase: "it's beyond my control" ("está além do meu controle"). No filme - como na vida - a indiferença nem sempre dá certo. Uma hora a máscara cai e com ela desaba toda a segurança, estabilidade e orgulho...
Um fator que pode desarmar a proteção racional, criada por uma pessoa, seria a emoção. Ela derruba. Ela insiste em ficar fora de controle.
Outro fator seria o inconsciente. O pesadelo é o lugar no qual, nos indivíduos "normais", ele aflora. Fora do sonho, pode ser embaraçoso: é a histeria ou o pânico, algo que constrange mais o outro do que você mesmo. No livro "História da Loucura", de Michel Foucault, um dos motivos da exclusão do louco seria esse:
"Em sua forma mais geral, o internamento se explica ou, em todo caso se justifica, pela vontade de evitar o escândalo." (p. 145)
A covardia se esconde atrás da aparência. Por isso, em nossa sociedade, parecer é bem mais importante do que ser. Quem se omite não aparece como covarde, ao contrário, é mostrado como esperto. A crueldade, nas raras vezes em que é assumida, vem associada à suposta natureza humana: "não posso fazer nada, eu sou assim". A culpa, então, estaria fora dele. O indivíduo, nesta perspectiva, seria somente um objeto do destino. Trata-se da velha história de que alguém tem que fazer o "serviço sujo".
É cômodo pensar assim. É fácil não assumir os próprios atos. É conveniente colocar a culpa no outro. Afinal, tudo isso "está além do seu controle".

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