terça-feira, 7 de junho de 2011

POSSESSIVO

Bertrand Russell, em "O Elogio ao Ócio" (Editora Sextante, p. 78), afirma que "devido à possessividade conjugal, marido e mulher sacrificam com prazer o desejo eventual de uma vida social mais intensa para que o outro não tenha ocasiões de encontrar membros potencialmente perigosos do sexo oposto." Ele refere-se à época que o homem saia para trabalhar e a esposa era quem cuidava da casa e dos filhos. Isso, porém, mudou, os dois trabalham. Contudo, a possessividade conjugal permaneceu. Muitos casais ainda preferem ficar em casa e não ter uma vida social ativa. No máximo, realizam jantares no lar, convidando outros casais, o que, teoricamente, garantiria a possessividade.
Trata-se de uma ilusão, claro. Não existe segurança de fidelidade em relações amorosas. Neste sentido, o casamento (ou namoro) funciona como a religião: é preciso ter fé, é necessário acreditar no impossível. Sim, porque a fidelidade almejada seria aquela plena, que o parceiro desejasse somente a amada e vice-versa. Por isso, é tão comum perguntas como: você deseja outra pessoa? Se eu morrer, você continuaria me amando? O nosso amor é eterno mesmo? Muitas vezes, essas perguntas levam a discussões intermináveis, a partir de algo totalmente abstrato ou que não aconteceu ainda ("se eu morrer...).
Provavelmente a possessividade tenha a ver com a natureza humana. Certamente, ela faz mais sentido no mundo capitalista, no qual a idéia de posse de algo é tão importante. O problema, na relação amorosa, é que, a princípio, não é algo material. O amor é sentimento, é invisível. Como medir isso? Como ter certeza do amor de outro pessoa? Entre os casais, entre as obviedades, uma interessante é questionar se o outro pensa na pessoa amada durante todo o tempo. Isso seria possível? 
Mesmo numa relação amorosa de exclusividade, é normal fantasiar - antes, durante ou depois... O problema é admitir isso sem gerar brigas e polêmicas. Talvez a fantasia mais bizarra seja imaginar que o outro não fantasie... Para não ter uma ejaculação precoce e frustrar a mulher, o homem tem que pensar em algo que corte o seu impulso de orgasmo naquele momento e precisa ser algo nada sexual - como numa cena do filme "Vida de Solteiro" ("Singles").
Por outro lado, fantasia e realidade são coisas diferentes. A fantasia não existe para ser realizada. Ela deveria ficar na imaginação. O perigo é misturar fantasia e realidade. Normalmente, a associação entre estas duas dimensões termina mal. Não me referi ao sonho, que é outra coisa completamente diferente. Os sonhos podem ser bons ou ruins. De qualquer maneira, para Freud, eles tratam dos desejos dos indivíduos.
possessividade é o avesso do desejo. A pessoa prefere que o companheira seja infeliz do seu lado naquele momento, do que realize o desejo dela com outra pessoa e seja feliz. Neste sentido, a história do "eu só penso no seu prazer" é um mito antigo. O indivíduo parte de si mesmo. A vida em sociedade o obriga a respeitar o outro. Daí vem a ética, o que, basicamente, nos diferencia dos outros animais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.