terça-feira, 7 de junho de 2011

KAMA SUTRA


Sem a religião não existiria civilização, na medida em que os indivíduos, para viver coletivamente, precisam de regras. Se a lei vem "fora" da sociedade, claro, ela ganha mais força e credibilidade. A norma feita pelo "homem" gera dúvidas e polêmicas, pois favorece um grupo em detrimento de outro.
O sol é essencial para o funcionamento da natureza e, portanto, vital para a existência da humanidade. 
No documentário "Zeitgeist", ele é mostrado como a base das religiões criadas pelos indivíduos, o que explicaria a proximidade entre elas. Em outras palavras, a mesma história é contada com nomes diferentes, em épocas e lugares diferentes: "Horus" no Egito Antigo, 3.000 anos antes de Cristo (a. C.), "Mithra" na Pérsia e "Attis" na Grécia, ambos 1.200 anos a.C., "Krishna" na Índia, 900 anos a. C., "Dionysus" na Grécia, 500 anos a. C. e Jesus Cristo no ano 1 de nosso era.
A minha intenção não é falar da religião em si e muito menos se uma estaria certa e a outra errada. O que me interessa, neste assunto, é a forma da construção de um conhecimento e como ele reflete no cotidiano das pessoas. Neste sentido, os livros religiosos são importantes. Parece que o mais antigo é o "I Ching - O Livro da Mutações", com princípios elaborados a 5.000 anos a. C. Atualmente, a Bíblia - 1.500 anos a. C. - e o Corão - 610 anos d. C. - parecem ser os mais aceitos como definidores de leis para o cotidiano dos indivíduos. O 11 de setembro demonstrou que o conflito fundamental, no mundo de hoje, parte destas duas visões de mundo.
Como norma de comportamento, é difícil separar numa obra aquilo que seria religião, filosofia ou política. Nicolau Maquiavel escreveu em 1.532 d. C. o livro "O Príncipe", com conselhos claros de como se manter um governo e de como agir no sentido de manipular as pessoas. Tal sinceridade em nada tem a ver com religião. Sua praticidade o coloca como uma obra clássica para a Ciência Política.
Bem antes de "O Príncipe", foi elaborado o "Kama Sutra" na Índia, "um trabalho de filosofia e sexologia", que apresentava sugestões específicas para a vida de um casal, definindo como deveria ser o papel do marido, da esposa e da amante ("courtesan"). Apesar de ficar conhecido como o "livro do sexo" da Índia, a intenção era que ele não fosse visto "somente como instrumento para satisfação de nossos desejos." (p. 198) 
O livro foi traduzido para o inglês, em 1883, por Sir Richard F. Burton. A edição francesa foi traduzida a partir da versão de Burton. O livro ganhou notoriedade depois da década de 1960, ou seja, após a invenção da pílula anticoncepcional e os conseqüentes movimentos de liberdade sexual e independência da mulher. 
Assim como Maquiavel é direto em seus "princípios" para o Príncipe - "e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar" (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.