quarta-feira, 1 de junho de 2011

SOBRE HOMOFOBIA

A decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da igualdade de direitos tanto para casais heterossexuais como homossexuais foi um avanço num país que até 1985 vivia sob censura e ditadura.


A decisão acontece num momento de ataques de homofobia no Brasil. A questão que fica é: por que a sexualidade (do outro) incomoda tanto? Quando era casada com Richard Gere, Cindy Crawford teve que lidar como este tipo de problema. Ela afirmou:


"I totally respect Richard's choise not to say, 'I'm not gay! I'm not gay!' I've always thought that was really cool about Richard. His attitude is that there is nothing wrong with being gay, so even by saying: "Well, I'm not, but there's nothing wrong with it." (Playboy, September 1995, p. 55) 


Ainda hoje, em alguns países, o homossexualismo é considerado crime. O preconceito é evidente no mundo atual. Mas... sempre foi assim?


Parece que não. Na Grécia Antiga, a relação entre os homens era considerada comum e até "superior" aquela que existiria entre um homem e uma mulher. Michel Foucault (O Cuidado de Si, p. 198-199), analisando as concepções do período, afirmou:


"(...) o amor pelos rapazes é ao mesmo tempo diferente da inclinação pelas mulheres e superior por duas razões: uma, diz respeito à sua respectiva posição em relação à natureza; e a outra, que concerne ao papel desempenhado, em cada um deles, pelo prazer. 
Os partidários do amor pelos rapazes fazem uma breve alusão ao argumento freqüente que opõe tudo que há de artificial nas mulheres (enfeites e perfumes em umas, navalhas, filtros e pinturas nas mais desavergonhadas), ao natural dos rapazes que são encontrados na palestra. Mas o essencial contra o amor pelas mulheres é que nada mais é do que uma inclinação danatureza."


Na sociedade atual é diferente. A "inclinação da natureza" é ressaltada para defender a relação entre o homem e a mulher como aquela que deve ser adotada. Essa tese é defendida por religiosos elíderes políticos. 


Um caso extremo é a postura do político fascista russo Vladimir Zhirinovsky. Diante da afirmação da jornalista Jennifer Gauld de que na Rússia, na época do comunismo, o homossexualismo era considerado crime, Zhirinovsky disse que: "o homossexualismo seria como um 'sputnik' (...) na história da humanidade." Em seguida, resumiu a sua opinião:


"Se as pessoas casam, ou têm relações sexuais assim que desejam, ou não estão isoladas no exército ou em prisões, então, em 100 ou 200 anos, o homossexualismo desapareceria." (Playboy, March 1995, p. 61) 


Assim, para Zhirinovsky, o homossexualismo seria resultado de uma conjuntura em que as pessoas não poderiam realizar "naturalmente" os seus desejos sexuais. Alguns religiosos acreditam que o homossexualismo poderia ser "curado" desde que existisse vontade por parte do indivíduo. De fato, trata-se de algo que incomoda.


Jacques Lacan (Livro 20 - Mais, Ainda, p. 37), uma vez, comentou tal incômodo:


"Joguei ano passado com o lapso ortográfico que fiz numa carta endereçada a uma mulher -' jamais saberás o quanto eu tenho te amada '- 'a' em vez de 'o'. Quiseram me apontar depois queaquilo queria talvez dizer que eu era homossexual. Mas o que articulei precisamente no ano passado foi que, 'quando a gente ama, não se trata de sexo'."


Numa série de televisão, os produtores de "Two and Half Men" falaram que o episódio sobre homossexualismo seria um dos preferidos deles, na medida em que lidava com uma questão que incomodaria todos os norte-americanos: ser ou não ser gay. 


No episódio, o personagem Charlie Harper, intrigado com a amizade do seu irmão com um divorciado gay, procurou a sua terapeuta e perguntou: "eu poderia ser gay sem saber?" O incômodo era claro. No final do episódio, o seu irmão tentou beijar o divorciado, que disse que ele não era gay. Diante das dúvidas de Alan Harper, o divorciado perguntou: "você sente atração por homem?"Refletindo sobre a sua condição, o irmão de Charlie admitiu a heterossexualidade e ainda ouviu: "it's OK to be straight" (algo como "é correto ser hetero").


Uma frase irônica resumia o debate do episódio. Era defendida, indiretamente, a idéia de que deveria existir liberdade. Portanto, a sexualidade estaria associada ao desejo e não a uma norma social ou a uma época histórica. O fato do personagem que gerou desequilíbrio na família Harper ser um divorciado gay demonstra ainda que essa sexualidade não seria algo pronto e definido. Seria algo em construção, assim como o desenvolvimento do próprio indivíduo. 


Isso não significa que alguém deixará necessariamente de ser heterossexual ou não. A palavra chave é o desejo. Afinal, você sente atração por quem? É uma coisa íntima e pessoal, a partir disso, o indivíduo tentará estabelecer uma relação amorosa com o outro.


Em suma, o fundamental não são os rótulos. O que importa é definir a ação com base em três conceitos: amor, desejo e atração. O resultado pode ser aquilo que chamam de felicidade.

2 comentários:

  1. Às vezes penso que não são as situações que importam, para a maioria dos xiitas. E sim o exercício do poder em relação a essas coisas. É muito mais fácil você desprezar o que é minoria, oras. É muito mais simples e prático se apoiar em modelos consolidados, seja na religião, no social, no que tange à família, etc.

    É uma excelente oportunidade para pessoas - de caráter duvidoso ou com personalidade vulnerável - se firmarem socialmente e/ou comprovarem suas normalidades, afinal, quem quer ser anormal? Ninguém.

    Essa teoria é a única que consegue me convencer, já que muitas das pessoas homofóbicas vez ou outra manifestam - sigilosamente - algum tipo de tesão por alguém do mesmo sexo.

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  2. Concordo.

    Sobre querer ser "anormal", vale um comentário do Nietzsche:

    "que hoje não se ouça, que hoje não se saiba tirar nada de mim, não é somente compreensível, parece-me até justo."

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