terça-feira, 7 de junho de 2011

SEXO E RELIGIÃO: A CONSTRUÇÃO DE MITOS

O Papa admitiu recentemente (novembro de 2010) o uso de preservativos para alguns casos especiais. Do ponto de vista do catolicismo, foi um marco. Do ponto de vista geral, o discurso pode ser percebido como mais uma adequação dos princípios da igreja à sociedade que tenta representar. Essa mesma igreja, em épocas passadas, estava de acordo com a inquisição e as Cruzadas. Para muitos, a prática da tortura foi inventada pelos representantes do catolicismo.
O uso de preservativo é admitir que o sexo não existe apenas para a procriação. Sexo é também prazer e isso era enfatizado por filósofos da antiguidade. Com o cristianismo e a criação (e avanço) da medicina esse quadro mudou:
“Médicos inquietam-se com os efeitos da prática sexual, recomendam de bom grado a abstenção, e declaram preferir a virgindade ao uso dos prazeres. Filósofos condenam qualquer relação que poderia ocorrer fora do casamento, e prescrevem entre os esposos uma fidelidade rigorosa e sem exceção. Enfim, um certa desqualificação doutrinal parece recair sobre o amor pelos rapazes.”(FOUCAULT, O cuidado de si, p. 231)
Esses princípios foram impostos à sociedade ocidental. Houve resistências, lutas e condenações ao longo de séculos até chegarmos na década de 1950, período em que se acreditava como verdades absolutas concepções como virgindade, casamento e  fidelidade. Além disto, o amor pelos rapazes que era comum na Grécia Antiga, passaria a ser visto com antinatural.
Na década seguinte, ainda no século XX, os princípios começaram a ser problematizados a partir de vários movimentos sociais: jovens, mulheres, negros e homossexuais. Entretanto, após uma década no século XXI, não podemos afirmar que a crença nestes princípios tenha desaparecido. A maioria ainda coloca a  fidelidade como norma básica da relação amorosa. A homofobia permanece. Se, por um lado, o mito da virgindade não faz mais sentido, por outro, a idéia do casamento permanece como objetivo para muitos jovens. 
Em suma, mudanças de mentalidade são lentas, podem durar décadas ou séculos. Nem sempre a transformação significa evolução ou bem-estar para a maioria. O comum é exatamente ocorrer o contrário. Talvez uma explicação para isso seja a própria condição humana. Esta é uma boa hipótese.

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